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RÁDIO NOSSA JOVEM GUARDA: O erotismo sutil da jovem guarda nas músicas de Roberto Carlos nos anos 60

janeiro 14, 2013

O erotismo sutil da jovem guarda nas músicas de Roberto Carlos nos anos 60


Roberto Carlos no Programa Jovem Guarda na década de 1960


Sempre que se fala no erotismo do repertório de Roberto Carlos, são mencionadas geralmente canções como Proposta, Seu corpo, Cavalgada e Café da manhã, todas da fase eminentemente romântica e mais madura do Rei. No período da Jovem Guarda, no entanto, algumas músicas guardam um erotismo sutil e, às vezes, satírico.
O exemplo mais óbvio está na canção É proibido fumar, de Roberto e Erasmo, com o sexo associado ao fogo, por extensão, o ato de fumar:

Eu pego uma garota
E canto uma canção
E nela dou um beijo
Com empolgação
Do beijo sai faísca
A turma toda grita
Que o fogo pode pegar (...)

Eu sigo incendiando bem contente e feliz
Nunca respeitando o aviso que diz
Que é proibido fumar

Do mesmo disco, de 1964, tem Um leão está solto nas ruas, de Rossini Pinto, entre didática e galhofeira, com o sujeito anunciando:

Um leão está solto nas ruas
Foi descuido do seu domador
Sei que ele está faminto
Não come desde ontem
Preciso encontrar o meu amor

Após os aconselhamentos de praxe - "feche as janelas/ tranque bem o portão" - a estrofe final revela porque ele precisa achar a namorada:

Um leão está solto nas ruas
Calamidade igual nunca vi
Jamais terá problemas de alimentação
Se ele encontra o meu broto por aí. 

Está claro que o "broto" solucionará os problemas alimentares do leão porque é bem fornido, gostoso, um prato cheio, enfim, para toda espécie de fera, inclusive, as da espécie humana.

Em É meu, é meu, é meu, de Roberto e Erasmo, do LP O inimitável, de 1968, que corresponde a uma transição entre a Jovem Guarda e a fase soul/ romântica, toda a canção, desde o título, é uma declaração assumida de possessividade, mas com uma graça tal nos versos e no canto em staccato, à maneira de Mário Reis, que tudo soa com leveza, intimidade própria de namorados:

Tudo que é seu, meu bem
Também pertence a mim
Vou dizer agora tudo
Do princípio ao fim
Da sua cabeça até
A ponta do dedão do pé
Tudo que é seu, meu bem
É meu, é meu, é meu

A canção vai num crescendo enumerativo, sempre elogioso - cabelos, boca, sorriso, olhos - e aí, vem um dos versos mais bonitos da música, no qual os olhos do ser amado facultam a visão ao que ama:

Seus olhinhos, que beleza
Fazem ver com mais certeza
Que tudo que é seu, meu bem
É meu, é meu, é meu.

A seguir, a voltagem erótica sobe com:

Bem baixinho em seu ouvido
Gosto de falar(...)
Quando seus braços me apertam
Mil idéias me despertam

A temperatura desce um pouco, amainada por versos quase infantis:

São suas mãozinhas feitas
Pra fazer carinho
Nada tem mais charme
Do que o seu joelhinho
Seus pezinhos a pisar
Meu coração que a cantar
Diz que tudo que é seu
É meu, é meu, é meu

O verso dos pés a pisar o coração é o único que demonstra alguma submissão daquele que fala, mas está embalado ainda por tanta leveza e humor que os sinais de paixão passam despercebidos. No entanto, não resta dúvida:

Não adianta discutir
Que tudo isso é meu
Por isso eu vivo a repetir
Que é meu, é meu, é meu

No final, a sutileza, dita pelo que não se diz, revelada pelo que está oculto, mas presente na palavra "tudo". No início, ele afirma que vai dizer "tudo". Agora, arremata:

Tudo que falei meu bem
E o que eu não falei, também
Tudo que você pensar
É meu, é meu, é meu

Finalmente, a mais satírica desta lista, O feio, de Getúlio Côrtes e Renato Barros, do Lp Jovem Guarda, de 1965. A música fala de "um cara feio, mas que está cheio de garotas", como Roberto mesmo diz, antes de começar a cantar. A seguir, é feita a descrição do sujeito:

Vejam só que tipo esquisito eu vi
Rapaz tão feio assim
Nesse mundo eu não conheci
Quando sorrindo está
Parece que um temporal vai desabar
Seu vasto narigão
Me lembra um grande pimentão

Mas as garotas vivem
Por ele a suspirar
Todas elas querem
Com o feio namorar
E é 54
O número do seu sapato
Ele é comprido e até
Parece um toco quando está de pé
Careca e bem sisudo
Caramba! 
Fala baixo e também é bicudo.

Ora, por que este feio é tão querido pelas mulheres? Tenho que, neste momento, dar crédito à minha mulher, Anna, que matou a charada. Todas as características do feio são relativas a tamanho e intensidade. Ele é esquisito, o sorriso prenuncia um temporal, tem o nariz grande como um pimentão, o pé calça um número enorme, é comprido, parece um toco...e é careca e bicudo tal e qual um falo. O feio é querido porque ele parece um falo ou é o próprio, alegria das mulheres.

Esta metonímica canção remete a um poema de Gregório de Matos, extenso e mais explícito, que também descreve o priapo, do qual destaco apenas os verso iniciais:

Ei-lo vai desenfreado, 
que quebrou na briga o freio, 
todo vai de sangue cheio, 
todo vai ensangüentado: 
mete-se na briga armado, 
como quem nada receia, 
foi dar um golpe na veia, 
deu outro também em si, 
bem merece estar assi, 
quem se mete em casa alheia.

No final da canção, Roberto ainda diz, maliciosamente: "Elas dizem que ele é feio, mas tem molho.







Fonte: Informações Terra Magazine

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