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RÁDIO NOSSA JOVEM GUARDA: janeiro 2015

janeiro 23, 2015

Erasmo diz não acreditar que Roberto tenha humilhado Tim

Erasmo Carlos está voando. Cada dia mais jovem, o Tremendão mal lançou o disco Gigante Gentil  (2014) e já está partindo para um novo projeto. Erasmo apresenta um repertório de lados B e composições que se perderam nesses tantos anos de carreira nesta sexta-feira (23), no Tom Jazz, em São Paulo

Feliz, leve e animado, o cantor não esconde a vontade de falar sobre a apresentação. "Não vai falar do meu show, bicho?", diz ele, em entrevista ao Terra , ao perceber que este repórter estava demorando para entrar no assunto que realmente o interessava. "São músicas que eu não canto em show, são músicas que as pessoas pedem sempre mas nunca estão nos shows 'normais'", afirma. No repertório divulgado, pérolas como Maria Joana e Gente Aberta (do álbum Carlos, Erasmo , de 1971), Grilos (Sonhos e Memórias , 1972) e Cachaça Mecânica (Projeto Salva Terra , 1974) estão garantidas no repertório. Clássicos? Não nesta noite.

Mesmo assim, Erasmo não foge da raia quando o assunto é polêmico e está pronto para esclarecer alguns conflitos de informações perdidos em seu passado e, principalmente, sobre seu amigo Tim Maia, que teve sua biografia retratada com controvérsias no filme Tim Maia, que estreou nos cinemas no fim de 2014, e na minissérie global, originada do longa e exibida em dois capítulos no começo de janeiro. "Eu nunca fui dos Sputniks, cara, mas sim dos Sneaks, os Cobras", esclarece, incomodado, um dos enganos cometidos pela montagem.

Sobre a produção da Globo, o Tremendão também se mostrou um pouco surpreso com a repercussão. "A Globo me convidou para participar de um documentário sobre o Tim Maia. Não sabia que iam cortar o filme e essas coisas. Eu fui chamado para fazer um filme sobre o Tim Maia. E aí a coisa se desdobrou, botaram meu depoimento lá e cortaram umas partes e tal. Eu não tinha visto o filme. Aí, fui ver o filme. Cortaram bastante coisa, realmente. Mas aí eu não tenho nada com isso", afirma.

Sobre a polêmica cena em que Roberto humilha Tim nos bastidores de um show, Erasmo também é claro em sua observação: "eu nunca vi nenhum assistente de artista humilhar uma pessoa como o cara mostrou no filme, não acredito que tenha sido assim não."

Confira e entrevista completa:

Terra - Você já é de uma velha guarda do rock nacional e, mesmo assim, dos seus contemporâneos, é um dos mais modernos, fazendo parcerias com Marcelo Jeneci, Cachorro Grande, Fresno fez um cover seu. Como é estar inserido nesse universo jovem e com essas parcerias com cantores mais recentes?

Erasmo Carlos -  Cara, eu vou vivendo, né? Sigo em frente e vou vivendo. Procuro ser antenado, ativo, fazendo coisas, e a convivência faz o resto. Eu danço o que a banda toca. Acho importante estar em evidência, produzindo com vigor, garra, ocupando seu espaço realmente. Seu espaço ninguém tira, você ocupa ou não, mas ele está lá sempre. Eu busco ocupar meu espaço para mostrar que eu existo, que estou vivo. O resto a vida faz.

Terra - E no seu novo disco, o Gigante Gentil...

Erasmo -  Ganhou o Grammy!

Terra - Isso, exatamente. Analisando o contexto de algumas músicas, é um disco que fala bastante de amor, como na sua carreira inteira, mas você faz uma relação com internet, com Facebook, com redes sociais. O Gigante Gentil fecha essa trilogia mais moderna, que começou com Rock n’ Roll, depois Sexo e agora esse encerramento?

Erasmo -  Eu acredito que sim, bicho. Porque agora, quando eu gravar um trabalho novo, já vou estar com outras ideias, sabe? Daqui, não sei, um ano e pouco... porque esse show que vou fazer agora não é novas ideias, é um projeto. Mas no próximo será outra coisa já, não sei o que vou estar pensando na época. O negócio da internet, estou tentando trazer para a música, sabe? Porque faz parte da nossa vida. Até os filmes de suspense, que as mulheres ficam sempre acuadas no fim do filme, e aí o assassino tá solto pela casa. Ela tem que justificar porque não pede ajuda pelo celular, aí ele sempre cai na água, ela perde. Então são coisas que entram aos poucos na vida da gente e não saem mais. E para falar na música, acho que tem que ser muito bem colocado, tem muito termo em inglês. Não tem verbo. ‘Telefona para mim?’, o verbo telefonar tinha. Agora e-mail, por exemplo, não tem um verbo, sabe? ‘Emeia para mim?'. Imagina uma canção o cara canta: ‘emeia pra mim, vou te emeiar...’, então aí fica um pouco difícil de cantar a sua vida na internet mesmo que ela já tome conta da sua vida.

Erasmo Carlos durante show em 2013
Foto: Facebook / Reprodução

Terra - E é meio que um reflexo seu mesmo, vendo suas redes sociais, dá para perceber que é um cara bastante antenado, ativo, conversa bastante, posta bastante foto, tem uma interação legal com seus fãs...

Erasmo -  Tem que usar esse veículo, né? O artista que não usa esse veículo hoje em dia vai ser extinto.

Terra - Mas falando de artistas novos, você, que trabalha com esses artistas, não só de rock, até porque não é somente um roqueiro, tem qual visão sobre esses novos nomes que estão surgindo?

Erasmo -  Ah, eu não dou conselhos, não. O artista é o que é. Ele evolui conforme vai amadurecendo, ele conta com a sorte com todo mundo, tem músicas que você faz que são boas por sorte, outras não são tão boas. É uma coisa muito particular de cada um. Você sempre tem que fazer as coisas, não pode parar. Se não toca no rádio, tem a internet. Eu estou substituindo a coisa de tocar no rádio, porque não pago jabá, então não toco no rádio, por alguma coisa. Tenho que mostrar minhas músicas novas para mostrar que eu não vivo mais da jovem guarda.

Terra - Você “sofre” muito com isso ainda? Ainda tem essa dificuldade de apresentar seu trabalho novo em show por conta da jovem guarda?

Erasmo -  Não, eu faço. Meus shows têm a parte da jovem guarda e a parte nova. As pessoas ouvem e gostam, o que não é o caso desses shows que estou fazendo agora, só tem lado B. Então não adianta pedir pra eu cantar Sentado à Beira do Caminho que eu não vou contar. Só músicas de Lado B mesmo, que não tocaram no rádio, que fizeram para mim mas outra pessoa gravou, sucessos de outra pessoa, sabe? Músicas assim.

Terra - Acredita ser importante fazer essa renovação no repertório, ainda mais sendo um artista experiente, com tanto tempo de estrada?

Erasmo -  Acho. É difícil, né? Os shows que eu faço o público quer ouvir sucesso, música nova é sempre difícil de tocar, ainda mais quando não toca no rádio, sabe? Então é difícil. Mas mesmo assim tem que cantar, mostrar que o cara tá vivo, fazendo coisas hoje. Tem pessoas que dizem ‘ah, no meu tempo...’, meu tempo é agora. A jovem guarda tem um público muito fiel, então eles vivem presos na jovem guarda e querem que os artistas fiquem presos também. Cabe a você se libertar. As pessoas têm pedido pra caramba pra eu fazer show da jovem guarda, mas eu não faço. A jovem guarda está presente nos shows como é, onde eu canto sucessos da minha vida e as músicas atuais também.

Terra - Sobre a jovem guarda, a Fresno fez há um tempo um cover de Sentado à Beira do Caminho. Como encara essa coisa de continuar inserindo um pé em cada geração de músicos que aparece?

Erasmo -  Mas eles fazem por causa da música, não é por mim não, sabe? Eles gravam as músicas porque gostam, não acredito que seja por minha causa. O Fresno gravou, o Sabonetes também. Aí é a força das músicas, sabe? Isso começou com Leo Jaime, que gravou Gatinha Manhosa , aí o público fica pensando que a música é do cara.

Terra - Isso te incomoda?

Erasmo -  Não, não. Nada me incomoda, cara. O importante é estar junto com os outros, na frente, se for possível. Não perco tempo analisando as coisas. Eu vou seguindo em frente. Faço o que quero, hoje minha gravadora permite isso, não preciso de autorização de ninguém, então vou vivendo e vendo o que tenho que fazer. Se for parceria a gente vai fazendo também, com Arnaldo Antunes, Nelson Motta, Caetano Veloso, quem aparecer a gente faz. Eu sou do mundo, o que ele apresentar eu vou vivendo.

Terra - E essa parceria com o Caetano é inédita, não é? Demorou para acontecer, não acha?

Erasmo -  É inédita, do Gigante Gentil. Demoramos, cara! Foi na MTV. A Paula Lavigne estava com a gente e começou a falar: ‘pô, vocês nunca fizeram uma música juntos, tá na hora de fazer...’ e aí a gente riu e tudo mais. Aí, quando estava gravando o Gigante Gentil eu me lembrei disso e mandei uma música para ele. Quem sabe né? Aí ele topou e pronto. Gosto muito, fico à vontade de falar porque a letra é dele, né? Então eu considero uma obra prima. Letra linda, falando de amor.

Terra - E se tem uma coisa que Caetano sabe falar é de amor...

Erasmo -  Ô!

Terra - Eu tenho mais um tema para tratar com você. O livro do Nelson Motta sobre o Tim que originou o filme foi muito bem recebido pela crítica e é elogiado até hoje. Mas a adaptação feita pela Globo teve uma repercussão polêmica. A repercussão ou a montagem da história te incomodaram de alguma maneira?

Erasmo -  Não, porque a vida não era minha, né? Aí, a Globo, por exemplo, me convidou para participar de um documentário sobre o Tim Maia. Não sabia que iam cortar o filme e essas coisas. Eu fui chamado para fazer um filme sobre o Tim Maia. E aí a coisa se desdobrou, botaram meu depoimento lá e cortaram umas partes e tal. Eu não tinha visto o filme. Aí, fui ver. E cortaram bastante coisa, realmente. Mas aí eu não tenho nada com isso. Agora, a minha parte do filme, eu fui muito amigo do Tim na infância, o filme quase não mostra, mas foram passagens muito minhas e dele, nada definitivo.

Sobre a cena (cortada, onde Roberto teria humilhado Tim no camarim) eu não sei, ele tá morto, não pode se defender. O Roberto é quem pode dizer. Agora eu não acredito que tenha sido daquele jeito, não, porque eu nunca vi isso, nenhuma equipe de artista dar uma prova de prepotência como essa, o que me leva a crer que aquilo foi uma decisão do diretor. Cada cena pode ser de milhões de maneiras. Mas eu nunca vi nenhum assistente de artista humilhar uma pessoa como o cara mostrou no filme, não acredito que tenha sido assim não.
Nada de clássicos! Show de Erasmo é só com lados B
Foto: Divulgação

Terra - Sobre o show de lados B que está fazendo, exatamente qual é a proposta da apresentação em relação ao ambiente e a relação das músicas com o público?

Erasmo -  Eu já fiz esse show aqui no Rio, deu certo, então a gente resolveu gravar em DVD, porque são músicas que eu não canto em show, são músicas que as pessoas pedem sempre mas nunca estão nos shows “normais”. Então, (o projeto existe) por uma série de motivos. Escolhemos uma casa pequena propositalmente para dar uma intimidade, porque o show não é só musical, tem bastante papo, eu converso muito com as pessoas. Então a casa pequena é pra ficar mais aconchegante.



Fonte: Terra

janeiro 19, 2015

A história de Antônio Marcos, cantor galã que perdeu tudo


O Último Romântico

Antônio Marcos levou multidões à loucura com sua bela voz e porte de galã. Cantor e compositor de clássicos populares dos anos 70, fez Roberto Carlos vender milhares de discos com a música “Como Vai Você”. Ex-marido da cantora Vanusa e da atriz Débora Duarte, deixou muitas mulheres apaixonadas. Mas foi tragado pelo alcoolismo.

São Paulo, verão de 1975, o casal Vanusa e Antônio Marcos toma o café da manhã ao lado das pequenas filhas, Amanda e Aretha. De repente, a mais velha diz que não quer mais ir para a escola: “As crianças, durante o recreio, gritam que meu pai é bêbado”. A cantora gela e pede à babá que leve as meninas para o jardim. Há tempos que ela adiava aquele momento.

“Está vendo, Toninho, o que você está causando à suas filhas?” O cantor nada responde. Vanusa continua: “Chegou a hora de você escolher: ou a nossa vida ou o seu scotch.” Antônio Marcos ergue a garrafa de uísque, dá um gole e diz, sem encará-la: “Nunca vou parar de beber”. Sem nada mais dizer, ele levanta-se e vai embora. Vanusa debruça sobre a mesa e desaba a chorar. A xícara vira e o café escorre pela toalha. Terminou assim o casamento que durante seis anos fora o mais badalado da música popular dos anos 70.

A Ascensão

Antônio Marcos Pensamento da Silva nasceu no dia 8 de novembro de 1945, em São Miguel Paulista, distrito da zona leste de São Paulo. É o segundo dos oito filhos do alfaiate e vendedor de livros Vicente e de dona Eunice — hoje com 91 anos –, costureira, poetisa e compositora. Como era fraquinho, o aluno do grupo escolar Vila Sinhá costumava contar que chegou a tomar injeção de sangue de cavalo na infância, seguindo as instruções de uma benzedeira. Começou a trabalhar cedo, para ajudar a família de baixa renda. Torcedor aficionado pelo time do São Paulo, foi office-boy do banco Ítalo-Brasileiro e balconista de uma loja de sapatos. E, desde pequeno, cantava nas formaturas da escola. Sabia de cor as canções de Bob Nelson, cantor country pioneiro no Brasil. Mas, aos 12 anos, já dava os primeiros goles nos botecos de São Miguel. Matava aulas para ir ao cinema, compor poesias e tocar violão na casa dos amigos. Por isso, só conseguiu concluir o segundo grau com muito esforço.


Desde sempre chamava a atenção por seu belo porte e carisma: fazia pontas em programas da TV Tupi. Sua voz garantiu-lhe uma vaga no coral Golden Gate, dirigido por Georges Henry e uma participação no programa de rádio de Albertino Nobre, onde foi nomeado “A Voz de Ouro de São Miguel”. Em 1962, esteve na Ginkana- Kibon, apresentada por Vivente Leporace e Clarice Amaral, na TV Record. Lá, cantou “Only You”, sucesso de Elvis Presley, de quem ele colecionava os discos. Dois anos depois, é destaque ao cantar, tocar violão e imitar cantores no programa de Estevam Sangirardi, na rádio Bandeirantes.

Antônio beija Vera Fischer em uma fotonovela 

O rapagão também era talentoso nos tablados e logo foi fisgado pelo Teatro de Arena. Tornou-se ator principal das peças Pé Coxinho e Samba Contra 00 Dolar. Em 1965, junta-se a mais três rapazes e montam o quarteto Os Iguais. Estouram com a música “A Partida”, mas Antônio Marcos nasceu para brilhar sozinho e, dois anos depois, lança seu primeiro compacto com duas músicas: “A Estória de Quem Amou Uma Flor” e “Perdi Você”. O disco não fez muito sucesso, mas aquela voz sobressaiu. O cantor logo conseguiu gravar seu segundo compacto e estourar nas paradas com a música “Tenho Um Amor Melhor Que o Seu”, de autoria de Roberto Carlos. A música toca em todas as rádios e Antônio Marcos torna-se coqueluche nacional: o homem ideal das mocinhas românticas da época, com 1,82 m, cabelos lisos, robusto e dono de uma voz de ouro.

Os 14 discos gravados por Antonio Marcos

Os tempos de vacas magras vão ficando para trás. Na estante de casa, já acumula prêmios – como o Roquete Pinto e o Chico Viola, de 1969 — e compra seu primeiro carro, um Corcel Luxo. E embala um romance com uma das estrelas da Jovem Guarda, o Queijinho de Minas Martinha: “Antônio Marcos foi o grande amor da minha vida. Ficamos dois anos juntos como num conto de fadas. Na minha casa, tinha uma parede, como se fosse uma cortina, com seus poemas. Só que ele queria ‘juntar’ e eu queria casar”, lembra a cantora e compositora, que teve sua música “Sou Eu” gravada no primeiro disco do cantor.

Em 1969, com 21 anos, Antônio Marcos dá uma guinada durante o IV Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, quando ganha o prêmio de melhor intérprete. Ele nem liga para as vaias, canta lindo, com os cabelos longos e uma camisa de renda preta aberta até o umbigo, exibindo o tórax cabeludo. Ao ver Vanusa — que levou o terceiro lugar do festival cantando “Comunicação” –, se encanta e dá a ela uma flor: ao vivo e em preto e branco, como era a televisão na época.

Antônio Marcos e Vanusa no Rio de Janeiro, quando ainda não eram casados 

Os dois já haviam se encontrado meses antes rapidamente no escritório da gravadora RCA Victor: “Nos vimos e o ar parou. Ele me deu um disco e, em casa, quando ouvi aquela tremenda voz, eu me apaixonei na hora’’, lembra a cantora, que naquele dia, terminou o namoro com o cantor Fábio. E, após o festival da Record, alguns cantores foram comemorar na casa de Antônio Marcos, no Brooklin, bairro da capital paulista. Providencialmente, Edith, na época assessora de Roberto Carlos, deu um jeito de Vanusa pegar uma carona no Sinca Chambord lilás do cantor. Na casa dele, pura festa: todos cantando e bebendo em volta da piscina. Até que Vanusa descola um maiô emprestado, dá um mergulho e braçadas a la Esther Willians que deixa todos os convidados surpresos: “Saí tremendo de frio e fui para o um quarto, na edícula. Tirei o maiô, fiquei nua e entrei embaixo da coberta. De repente, sinto alguém entrando. Sabia que era ele. Fizemos amor na cama da empregada”, confessa.

Na tarde seguinte, já tomavam sorvete juntos. E, daquela casa, Vanusa não saiu mais. Os dois passaram a morar juntos, mas não eram casados, como exigia os padrões rígidos da época. Isso porque os artistas naquele tempo não podiam se casar para alimentar os sonhos dos fãs. Então, Vanusa ficou grávida e passou a ser xingada nas ruas pelas tietes de Antônio Marcos. Em uma apresentação do cantor em Quem Tem Medo da Verdade, o casal foi tão massacrado que Vanusa — assistindo ao programa sozinha em casa – passou mal e acabou perdendo o bebê aos cinco meses de gravidez. Com o sofrimento da cantora, as fãs se sensibilizaram e a imprensa passou a chamá-los de “Casal 20”.

No mesmo ano, Antônio Marcos emplacou nas rádios a música “Menina de Tranças” e, na televisão, como galã do folhetim Toninho On the Rocks, feito para ele estrelar no horário nobre da TV Tupi e que também tinha Raul Cortez e Marilu Martinelli no elenco. A mocinha da trama? Débora Duarte. Em uma tarde, um silêncio constrangedor tomou conta dos estúdios da Tupi, no Sumaré, onde gravavam a novela. Vanusa passou por lá para fazer uma surpresa para Antônio Marcos e flagrou-o, na cama do cenário, dando um beijo em Débora. Ele justificou que era o ensaio de uma cena, mas a desculpa não colou. A cantora, novamente grávida, disse-lhe que estava tudo acabado e sumiu pelos corredores da emissora. Foi para a casa da mãe. Inconformado, Antônio Marcos ligava para ela de hora em hora, mandou flores, presenteou-a com um anel de brilhante. Até que a cantora o aceitou de volta.

O Auge

Sucesso na TV, Antônio Marcos estreia no cinema com o longa-metragem Pais Quadrados, Filhos Avançados, dirigido por J. B. Tanko. “Ele chegou atrasado à pré-estreia, no antigo Cine Regina [no centro de São Paulo]. Depois do filme, nem falou nem subiu no palco. Estava indisposto”, conta hoje Mauricio Kus, um grande divulgador de filmes nacionais dos anos 70. A indisposição era em decorrência de umas doses a mais. “Ele bebia muito e não comia. Seu café da manhã era uísque”, confirma Vanusa. O cantor chegou a bater o carro várias vezes por dirigir alcoolizado. Certa vez, teve perda total de uma Ferrari: no problem, como estava no auge da carreira, em 15 dias já tinha outra garagem.

Apesar do pileque constante, ele era muito vaidoso. Tinha um closet cheio, com diversos tipos de botas e ternos de muitos tons e com brilho. Em uma loja, se gostasse do modelo de uma camisa, levava de todas as cores. E lançou moda: foi um dos primeiros homens a usar macacão no Brasil. Afinal, Antônio Marcos, ao lado de Wanderley Cardoso e Paulo Sérgio, era ídolo do programa Os Galãs Cantam e Dançam, de Silvio Santos. Também fazia sucesso nas fotonovelas: em uma delas, aparece dando um beijaço em Vera Fischer, na época estrela da pornochanchada A Super Fêmea. No cinema, em Som, Amor e Curtição, contracenou com as belas Betty Faria e Rosemary. E, no mesmo ano, em 1972, Antônio Marcos oficializou o casamento com Vanusa, depois que Amanda, a primeira filha do casal, nasceu. O casal ainda teve mais uma filha, Aretha, e, com a ajuda de Silvio Santos, que sempre gostou muito do cantor, compraram uma casa na rua Joaquim Nabuco, em São Paulo.

Ele também era respeitado como compositor. Foi em um jantar na casa de Nice e Roberto Carlos, no Morumbi, que ele apresentou “Como Vai Você”, que rendeu ao ícone da Jovem Guarda mais de 700 mil discos vendidos.

Antônio Marcos ganhava malas de dinheiro com seus shows. Mas também gastava muito. Chegou a dar seu carro para um taxista bêbado que lamuriava em um bar. Aliás, não era raro o cantor fazer essas “doações”: costumava comprar comida em restaurantes nobres para dar a mendigos e dividia o que tinha na carteira se um amigo estivesse “duro”. Atitudes de um homem generoso, lamentavelmente consumido pelo alcoolismo. “Eu perguntava por que ele bebia tanto e ele respondia: ‘Não sou deste planeta, o mundo é muito cruel e desigual’”, ressalta Vanusa.

Saía sem avisar seu paradeiro e chegava a virar noites. Certa vez, chegou a sumir por quatro dias. A atriz Elsa de Castro sabe bem: “Eu era louca por ele. Jantávamos na churrascaria Eduardo´s, no centro. Ele bebia muito, mas era gentil e não parava de falar na Vanusa. Aí, eu o levava para casa”, conta. Devido aos sumiços, sua mulher chegou a ter de substituí-lo em dois shows. “Nunca fui tão vaiada, foi tão traumático quanto o vídeo do Hino Nacional no YouTube [refere-se a uma interpretação polêmica que a cantora fez em março de 2009 e virou hit na internet]”, compara Vanusa, que acabou se separando do cantor no começo de 1975.

Em abril do ano seguinte, uma manchete chega às bancas de todo Brasil: “Bomba/Confirmado, Romance de Débora Duarte e Antonio Marcos”. A atriz, segundo o cantor dizia para os amigos, apresentara a ele um novo mundo, que se refletiu em seu novo visual: cortou o cabelo, passou a usar franja e bigode. Meses depois, o casal mostrou sua residência, no Morumbi, na capa de um especial da revista Amiga: “Os ídolos da TV e suas casas fabulosas”. A mansão tinha piscina, campo de futebol society, veludo nos sofás e um bar de aço escovado. E, em julho de 1977, tiveram a primeira filha, Paloma Duarte.

Na capa da revista "Sétimo Céu" com sua segunda mulher, a atriz Débora Duarte  

Débora e Antônio Marcos apresentaram juntos o programa Rosa e Azul, na TV Bandeirantes, que tinha, em 1979, atrações musicais como Miss Lane, Djavan, Lady Zu e Sidney Magal. Na mesma emissora, estrelaram a novela Cara a Cara, de Vicente Sesso, que também tinha no elenco Fernanda Montenegro, David Cardoso e Luiz Gustavo. O casou até gravou um compacto com as músicas da novela. Mas, no início dos anos 80, se separou e Antônio Marcos “entrou em parafuso”, como o próprio declarou. Pensou em largar tudo para ser garçom em Amsterdã. “Se tenho de ir ao fundo do posso, eu vou. Sou mais ou menos insuportável”, reconheceu. Dois anos depois, eles tentaram uma reconciliação, que não durou muito.

A Decadência

Aos 39 anos, Antônio Marcos conheceu sua terceira mulher, no aeroporto de Natal. A modelo Rose, quase 20 anos mais nova que ele, teve um menino, Antônio Pablo, que levou este nome em homenagem ao poeta Pablo Neruda, um dos favoritos do cantor. Pai novamente, o cantor se viu em um mau momento. Sua carreira já não era a mesma, ele não era mais convidado para fazer novelas e não estourava hits nas rádios. Até que uma nova parceria, com o compositor e produtor Antônio Luiz, deu-lhe novo ânimo. Antônio Marcos se aproximou do autor de “Tic Tic Nervoso” — um hit dos anos 80 – nos bastidores do programa do Bolinha. “As pessoas davam drogas para ele, mas não davam mantimento. Cheguei a fazer ligações anônimas ameaçando mandar a polícia atrás delas’’, conta Antonio Luiz, que, em 1985, compôs com Antonio Marcos 12 músicas para a peça Zé Criança, onde Paloma Duarte, com apenas 8 anos, atuou com o pai no teatro Nelson Rodrigues, em Guarulhos. E, em 1987, Luiz foi parceiro em quatro canções de O Anjo de Cada Um, o último disco de músicas inéditas que o cantor lançou.

Internações em clínicas de desintoxicação passaram a fazer parte da rotina de Antônio Marcos depois que ele resolveu, enfim, travar uma luta contra o álcool e as drogas. “Nesse período, percebi como a bebida transforma a gente. Você bebe, cheira tóxico e pensa que seu poder de criação está mais aguçado. Tudo palhaçada”, reconheceu em entrevista a revista Contigo.

Mas o declínio era evidente. Ele não conseguiu largar a bebida e acabou tendo que se mudar para Mairiporã, segundo Luiz, com dificuldades financeiras até mesmo para comer. Para socorrer o ex-marido, Vanusa, que já sido casada com o diretor Augusto César Vanucci — na época poderoso na TV Bandeirantes –, pediu ao ex-marido para promover um show na emissora para arrecadar dinheiro para Antônio Marcos. Mas com uma condição: que o cantor se internasse para ficar sóbrio. Três meses depois, em junho de 1987, ele saiu da clínica para o teatro Záccaro, onde aconteceria o especial. Mas, no caminho, deu um jeito de tomar um porre e chegou bêbado aos bastidores. Vanusa trancou o cantor no camarim até a hora dele entrar em cena. Antônio Marcos implorava por um copo e ela deu-lhe um dedo de uísque. O show acabou sendo um sucesso, mas o cantor não apareceu ao jantar com os convidados, que incluiu Alcione, Chitaõzinho e Xororó, Fagner, Ronnie Von, Sandra de Sá e Antônio Luiz.

No início dos anos 90, o cantor deixou Rose para se unir a Ana Paula Braga, enteada de Roberto Carlos. Em 1991, depois de uma série de internações por problemas no fígado, ele ainda fez uma temporada de shows na extinta casa noturna paulistana Inverno e Verão. Até que, na manhã do dia 5 de abril de 1992, foi a uma padaria em Alphaville, pediu uma dose de uísque e, ao sair, bateu sua caminhonete em um poste, machucando o tórax violentamente contra o guidão. Ana Paula o internou no hospital Oswaldo Cruz, e, por volta das 21h, Antônio Marcos faleceu. O cantor foi enterrado no cemitério Parque dos Girassóis com a presença de dezenas de fãs, que acenavam com lenços brancos.

Após a morte do cantor, um exame de DNA comprovou a paternidade de mais um menino, Manoel Marcos, que passou a ser o primogênito da prole. Assim, após a trajetória de um típico romântico, ele deixou cinco filhos, quatro ex-mulheres, 14 discos e centenas de músicas. Em São Miguel Paulista foi fundada a Casa de Cultura Antônio Marcos São Miguel e, em 2006, sua filha lançou o CD e DVD Aretha Marcos Ao Vivo – Homenagem aos 60 anos de Antônio Marcos. “Meu pai me ensinou que o importante na vida é ser feliz e falar sempre a verdade, mesmo que isso doa”, encerra Amanda, sua filha mais velha. Antônio Marcos também costumava dizer: “Nunca vou morrer. Vou ficar encantado.” Encantadas ficaram as milhares de fãs desse romântico incorrigível.

(Por Renato Fernandes, na revista J.P de agosto de 2011)





Fonte:UOL/(Por Renato Fernandes, na revista J.P de agosto de 2011)

janeiro 09, 2015

Nelson Motta defende Roberto Carlos e a TV Globo

Em artigo publicado hoje no jornal O Globo o jornalista, escritor e crítico de música Nelson Mota comentou a polêmica envolvendo Roberto Carlos, a Globo e o cantor Tim Maia, já falecido. Acusado de ter feito o jogo da TV Globo, mesmo tendo escrito um livro mostrando que o Rei esnobou o Tim, o profissional criticou as patrulhas ideológicas e acusou alguns setores de intolerantes, radicais e sectários.

Segue o artigo "Um militante para chamar de seu", de Nelsinho Motta:


A hilariante caricatura de Adnet é apenas uma síntese do que esses militantes dizem a sério!

Espero ansioso a nova temporada de “Tá no ar: a TV na TV” e a volta do militante nordestino exaltado de Marcelo Adnet, que vê em tudo uma conspiração da Rede Globo para solapar a cultura popular brasileira e debochar dos excluídos. Mesmo com seu grande talento e competência, a hilariante caricatura de Adnet é apenas uma síntese jocosa do que esses militantes escrevem nas redes sociais — mas a sério!

O radicalismo, a intolerância, o sectarismo, a cegueira ideológica e a simples estupidez humana, que inspiraram o personagem de Adnet, também caracterizam um dos arquétipos mais conhecidos de Nelson Rodrigues, “o cretino fundamental”. Já no seu tempo, Nelson reclamava que antes o cretino sabia de sua cretinice e se mantinha discreto no seu lugar, mas estava começando a perder o pudor e a se exibir em público, alardeando sua estupidez. O pior pesadelo para Nelson seria entrar na rede e ver que agora eles são legiões e gritam mais alto que todos.

Enquanto o militante do Adnet não volta para me divertir, acabei ganhando um militante para chamar de meu. O cara diz que eu fui subornado pela Rede Globo para defender o Roberto Carlos no programa do Tim Maia, que sou um capacho do capitalismo, traidor da memória do Tim... rsrs.

Eu só disse que o Roberto Carlos levou o Tim para cantar na Jovem Guarda, foi o primeiro a gravar uma música dele, “Não vou ficar”, que fez grande sucesso e deu fama e dinheiro ao Tim, e ainda arranjou um contrato para ele na CBS. O que mais Roberto poderia fazer pelo Tim? Uma massagem? Um quilo du bão?

Meu personal militante acha que a Globo investiu tanto tempo, dinheiro e talento em um programa só para sacanear o Tim e “limpar a barra do Roberto Carlos”... rsrs... Como se o Roberto precisasse disso. O ódio e a inveja cegam e ensurdecem, mas, às vezes, até divertem.

Como na semana seguinte seria exibido “O canto da sereia”, baseado em meu romance homônimo, aguardei ansioso a manifestação do meu militante, imaginando que ele descobriria tudo: Arrá! Em troca da “Sereia”, você livrou a cara do Roberto Carlos no programa do Tim Maia. Vendido!



Fonte:http://robertoalmeidacsc.blogspot.com.br/

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