À primeira vista, pode-se pensar que o rádio saiu de cena a partir dos anos 1960, perdendo espaço e dinheiro de publicidade para a televisão. Mas, na realidade, não foi bem assim. Até fins dos anos 1970, o rádio ainda era um meio dominante em muitas localidades distantes das grandes cidades brasileiras. Durante o regime militar, foi veículo de programas diversificados, como radionovelas, jornais falados, programas musicais e de variedades. Sua popularidade era tanta que o governo militar também utilizou o rádio para disseminar suas propagandas e programas oficiais para além das funções que o rádio já exercia no cotidiano nacional.
Longe de competir com a TV, ele a completava em muitos casos. O “radinho de pilha” era um companheiro inseparável dos trabalhadores mais pobres, não só no local de trabalho, mas também no caminho de volta para casa, nas primeiras horas da manhã, ou na solidão dos dormitórios. Para a classe média, a rádio FM e o aparelho de rádio no automóvel mantiveram a audiência do veículo, apesar do consumo crescente de televisores. O rádio, muitas vezes esquecido nos panoramas da época, ainda era parte fundamental na rotina da população brasileira. Nos anos 1960, o rádio ainda era o principal veículo de comunicação de massa no Brasil e era por meio dele que as pessoas se informavam e se divertiam.
O rádio também exerceu importante papel para a consolidação do golpe militar. Por isso, para compreender o período em questão, é importante conhecer os momentos históricos transmitidos pelo rádio e sua programação. Foi através desse veículo, por exemplo, que as pessoas ficaram sabendo da movimentação das tropas militares e da deposição do presidente João Goulart. Foi por ele também que o deputado Rubens Paiva fez um discurso pedindo que as pessoas resistissem ao golpe. Logo após o golpe, as lendárias rádios Nacional e Mayrink Veiga sofreram com a intervenção do regime. Diversas pessoas foram demitidas e concessões foram cassadas. Sabendo da importância do meio, o regime criou o Projeto Minerva, de educação a distância através do rádio, além de continuar fazendo uso do programa Hora do Brasil (lançado por outra ditadura brasileira, a de Getúlio Vargas), para exaltar os feitos governamentais (depois, o nome muda para Voz do Brasil).
A resistência contra a ditadura também passou pelas ondas radiofônicas. Um manifesto do líder da Ação Libertadora Nacional, Carlos Marighella, por exemplo, foi transmitido pela Rádio Nacional, após a invasão dos estúdios por um grupo de guerrilheiros. As rádios estrangeiras eram um caminho importante para obter informações que não passavam pelo restrito crivo militar. A rádio Tirana da Albânia teve papel chave para informar a população sobre a guerrilha do Araguaia, por exemplo.
Além disso, houve quem resistisse corajosamente nos grandes veículos, como no caso do jornalista Vicente Leporace, do programa Trabuco, transmitido pela Bandeirantes. Ele criou um formato único em que lia e comentava as notícias do dia com acidez. Seu estilo contundente e irônico lhe causou diversos transtornos com os censores. O Repórter Esso também marcou história no rádio, com seu jornalismo dinâmico.
Nos anos 1970, vieram as rádios FM e a TV passou a ser o mais importante e valorizado meio de comunicação de massa, roubando grande parte da fatia publicitária antes destinada às rádios. As radionovelas, sucesso nos anos 1940 e 1950, desapareceram nessa década e o entretenimento da rádio passou a ser, em sua maior parte, musical, com emissoras direcionadas a públicos específicos.
Para os setores populares, entretanto, a rádio AM continuou sendo o principal veículo de comunicação, transmitindo músicas, jornalismo policial e variedades. Não por acaso, a rádio AM foi um dos veículos mais utilizados pelos grupos de direita, sobretudo ligados ao mundo da repressão policial. Por meio dela, a partir do final dos anos 1970, realizaram uma verdadeira campanha contra a disseminação dos “direitos humanos”, palavra de ordem defendida pela esquerda.