Nesta imagem do arquivo A TARDE, Cyro em 1978, em show em Salvador
Isso foi há 41 anos, lá em 1973. Hoje aos 71, Cyro manda notícias da capital paulista, onde vive muito bem, obrigado, dirigindo uma estação de rádio popular, a Tropical FM, e segue fazendo shows.
Na época da gostosa Do You Like Samba?, Cyro lutava para se estabelecer como sambista, após fazer carreira na década de 1960, ligado ao movimento da Jovem Guarda.
"Em 1971, tive contato com um amigo, o Milton Carlos (1954-1976), que fez muito sucesso com Samba Quadrado. Ele estava procurando cantores para a primeira montagem brasileira de Jesus Cristo Superstar", lembra Cyro, por telefone.
"Ele me chamou para um teste. Lá estava todo mundo começando: Nei Latorraca, Jonas Bloch, Stênio Garcia e Eduardo Conde (1946-2003), que fez Jesus. Nei fazia Pôncio Pilatos e eu era o dublê dele. Depois consegui fazer um dos apóstolos. Quando Nei teve de abandonar a peça para atuar na TV, assumi o papel de Pilatos. Minha carreira mudou ali", relata.
Mais consciente do que na época da Jovem Guarda, Cyro não queria mais fazer rock. "Um produtor que conheci na Jovem Guarda me chamou para gravar. Eu disse que queria fazer sambalanço, como se dizia na época. Gravei Asfalto Falsificado, um grande sucesso em 1972 e também uma crítica a mim mesmo, por conta da minha influência estrangeira", conta Cyro.
Sucesso mundial
Do You Like Samba? veio na mesma levada já no ano seguinte, consagrando Cyro como cantor de sucesso no Brasil e fora dele. "Vendeu 500 mil cópias só no Brasil", diz. "Foi sucesso em Portugal, Espanha, Itália, França e Estados Unidos", conta Cyro.
Do You Like Samba? foi regravada pela orquestra de Edmundo Ros (1910-2011), de Trinidad & Tobago, estabelecido nos EUA nos anos 1940. Pena que o autor só foi saber disso... 30 anos depois. "Na época, me contaram que tocava na Espanha, mas eu nem sabia dos outros países, muito menos que tinha sido regravada nos Estados Unidos", conta.
Como nunca foi de se lamentar, Cyro continuou sua carreira e teve outro enorme sucesso com a música Crítica (1975). "No Brasil, foi um sucesso até maior do que Do You Like Samba?. Depois gravei Antes Que a Tristeza Venha com meu ídolo, Moreira da Silva", lembra.
"Os anos 1970 foram muito importantes para mim, mais do que os 60, em que gravei vários compactos da Jovem Guarda. Mas foi nos anos 70 que tive maior expressão", diz.
Sua transição de roqueiro jovem guardista para sambista não passou despercebida pelos antigos companheiros de matinê do Cine Roma, como Raul Seixas e Waldir Big Ben Serrão. "Quando gravei Do You Like Samba? fui aí em Salvador e Waldir tinha um programa de rádio: 'Que onda careta é essa, você gravando samba?'. Foi engraçado", conta.
A rádio do Cyro
Foi também em meados dos anos 1970 que sua vida deu outra virada. Na época, ele morava em Taboão da Serra, periferia de São Paulo. "Pensei que podia ter uma rádio ali, até por que queria fazer um pé de meia. Na época, o órgão das concessões era o Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações)", conta.
"Lá me informaram que tinha que solicitar ao Ministério das Comunicações, 'quando tiver concorrência'. Procurei saber mais e descobri que não ia ter abertura de canal para Taboão, mas ia ter para Itapecerica da Serra, que é pertinho. Entrei na concorrência, mas quem ganhava eram os políticos e tal", lembra.
A providência veio na forma de um telefonema de um velho amigo de Cyro, colega seu quando eram alunos na Academia Militar das Agulhas Negras nos anos 1950, e que Cyro abandonou para se dedicar à música.
"Ele me chamou para jantar no C'Adoro, disse que ia estar lá com o chefe dele. Quando eu chego, o 'chefe' era o general João Baptista Figueiredo, que ia se tornar presidente pouco depois. Cantei todas as músicas antigas do Orlando Silva que ele gostava. Dias depois ele me chamou no apartamento dele. Conversando, eu disse que estava concorrendo a uma emissora e ele me deu uma força. Foi assim, dei sorte", relata.
Cyro e a família tocam a Tropical FM até hoje, com a qual prosperaram. Em Salvador, aonde espera vir fazer show em breve, é lembrado com carinho pelos contemporâneos. "Tenho uma lembrança muito boa do Cyro", diz Paulinho Boca de Cantor.
"Como a gente (os Novos Baianos) era meio diferente, não era todo mundo que nos via como amigos. Mas Cyro curtiu nosso som e foi generoso conosco várias vezes", diz.
"Nunca mais nos vimos, mas ficou a lembrança daquela figura simpática e amiga, que tocava muito violão e fazia aquilo em que acreditava", afirma. Já o sambista Edil Pacheco lembra dele "tocando muito em rádio e fazendo sucesso. Era muito alegre e participativo. Soube que está bem, graças a Deus", conclui.
Fonte:atarde.uol.com.br