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RÁDIO NOSSA JOVEM GUARDA: Enza Flori, a esquecida mascotinha italiana da Jovem Guarda

julho 18, 2015

Enza Flori, a esquecida mascotinha italiana da Jovem Guarda


Em chamadas publicadas nos jornais paulistas sobre o programa Jovem Guarda, pagas pela TV Record, o nome Enza Flori repete­-se várias vezes. Mas quem é esta cantora que participou do lendário programa apresentado por Roberto, Erasmo e Wanderléa? Meio século depois, Enza Flori continua fazendo shows e gravando. Recentemente lançou um EP, com participação de Roger, do Ultraje a Rigor.

Depois do fim da Jovem Guarda, ela continuou por algum tempo, até que se afastou dos palcos. Mas a vontade de cantar foi mais forte. “Parei por muitos anos. Voltei a estudar. Me formei em decoradora. Casei, tive filhos, me separei. Eu saí da música, mas a música nunca saiu de mim. Não me sentia feliz com nada em minha vida até voltar a cantar”, conta Enza. “Mas me decepcionei muito quando voltei.

Aí é outra história. Tanto que preferi o anonimato. Voltei pra música cantando, na noite, em orquestras e bandas. Simplesmente não falava do passado. Ninguém me reconhecia. Ganhei muito dinheiro com a música, sem estar na mídia. Tinha trabalho de segunda a segunda.”


Enza Flori ainda mora em São Paulo e concordou conversar sobre sua participação na Jovem Guarda. Ela nasceu na Itália. Quando a família veio para o Brasil, ela tinha dois anos. Desde muito pequena, mostrou inclinação para a música: “Viemos nos anos 1950, depois da Segunda Guerra. Imigrantes. Eu nasci em Napoli, Itália e fui naturalizada brasileira. Minha avó paterna e meu pai adoravam música. Minha avó era excelente cantora, cantava nas festas de família. Napoli é a cidade da música e de cantores. É muito romântica”. Na Jovem Guarda seu apelido era “A Mascotinha do Roberto”, porém, o público a conhecia como a “Rita Pavone brasileira”. Sua admiração pela cantora italiana de rock, que fez sucesso mundial na primeira metade dos anos 1960, a levou para a TV Record: “Tive ajuda do Q.I (quem o indique)”, brinca. O acaso contribuiu também para que isso acontecesse.


O pai de Enza era representante, em São Paulo, do uísque Drurys. Num evento patrocinado pela marca de bebida, em Santos, uma das atrações foi o famoso conjunto instrumental brasileiro, os Jet Blacks. Quando souberam que a garotinha do chefão da Drurys cantava, o pessoal do grupo a convidou para cantar com eles: “Cantei com eles Datemi Un Martelo (nota: o maior sucesso de Rita Pavone). Saímos da feira e fomos para a concha acústica da cidade. Todos achavam que eu era a Rita”, revela. “O guitarrista era o Gato, que foi meu padrinho e foi o QI. Ele fez muita amizade com meu pai. Morou com a gente uns tempos. Me ensinou tudo de música. E me levou pra Jovem Guarda. Como guitarrista, era o melhor da época. Então, a minha primeira apresentação foi com os Jet Blacks, que já tinham muito nome. Depois daquela canja, o Gato abraçou minha carreira. Me levou na gravadora e na TV.”

RITA E ROBERTO

Enza Flori conheceu a compatriota Rita Pavone um ano antes da Jovem Guarda. “Consegui entrar no camarim. Não me pergunte como. Não sei. Talvez meu pai tenha conseguido, com certeza. Cantei pra ela no camarim, que ficou espantada com a semelhança da minha voz. A música foi Come Te Non ce Nessuno. Ganhei um chocolate italiano da mãe de Rita. E ainda me chamou pra cantar com ela no dia seguinte”, lembra­se a Enza. “Subi ao palco com a roupinha igual. Foi muito legal. Tenho as fotos no Teatro Record. Na saída, me puxaram os cabelos! Morri de medo! Não entendi nada. Muito tempo depois, Marcos Lázaro pediu que eu saísse do teatro depois do Jovem Guarda de mãos dadas com Netinho. Foi um rebuliço. Todos achavam que era a Rita e que eles tivessem namorando. Foi um jogo de marketing. Tudo invenção do Antonio Aguillar (produtor dos Incríveis).”Além de ser italiana, Enza se parecia muito com Rita Pavone, também um mito jovem .­Tinha 18 anos quando virou estrela pop internacional.

Não é à toa que a participação de Enza no Jovem Guarda seja pouco conhecida. Além de todos os tapes do programas terem virado cinza, em um incêndio ocorrido na TV Record, ela era uma criança que ainda levava bonecas aos camarins. Cantar, lembra, era só mais uma brincadeira. Não tinha a menor ideia da dimensão do programa e não dava muita importância a Roberto Carlos, que a chamava de “minha mascotinha”. Enza nem fez o estágio obrigatório de caloura em programas infantis. Seu primeiro contrato foi com a TV Record para o Jovem Guarda: “Roberto Carlos, eu nem sabia quem era. Mas logo vi o sucesso que fazia. Me tornei fã, claro. Era muito criança. Na época, com 9, 10 anos. Educação italiana, era muito infantil. Gostava de Rita e Beatles, conhecia todos os italianos, dos discos do meu pais. Mas eu curtia outras coisas, a Bossa Nova me fascinava. Fui me tornar íntima do Roberto já mocinha, 14 anos. Meu primeiro namorado foi o Ed Carlos. Frequentávamos a casa do Roberto. Vi os filhos nascerem e ganhamos uma música dele quando nos separamos. Ed a gravou (É Difícil Amar na Minha Idade, de Roberto e Erasmo, que o cantor só gravou em 1997).

Com o políticamente correto atual, contrário ao trabalho de menores, os pais de Enza Flori teriam provavelmente impedido a carreira artística da filha, ao invés de incentivá­la. Em lugar de supostos traumas, ela lembra­se de tudo com se fosse um sonho. Até mesmo das sessões de gravação dos cinco compactos que lançou: “No estúdio era muito demorado, gravávamos em dois canais. Meu pai me deixava na gravadora aos cuidados das pessoas que lá trabalhavam e ia me buscar no final da tarde. O escritório dele ficava pertinho. Minha mãe tinha que ficar em casa. Éramos quatro irmãos, todos pequenos, não podia me acompanhar. Pra mim nem era trabalho, eu me divertia muito. Era também muito paparicada por todos! Me tratavam como estrelinha. Eu cheguei a vender muito disco. Viajamos o Brasil todo, com e sem a Jovem Guarda. Meu pai sempre ia junto. Fui no Recife, lembro bem do Reginaldo Rossi e do programa na TV Jornal. Fui acompanhada pelo conjunto dele, o Silver Jets. Depois Reginaldo me mostrou uma música que gravei antes dele, O Pão”.


Da Jovem Guarda, Enza Flori conserva, além de boas recordações, um arquivo de fotos matérias, e a amizade com Roberto Carlos: “Vou a todos os shows. Ele me manda os ingressos. E vou ao camarim. O último foi em maio, no seu aniversário”.

Site de Enza Flori: www.enzaflori.com.br/



Fonte:boainformacao.com.br



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