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RÁDIO NOSSA JOVEM GUARDA: A música internacional nos anos 60

julho 29, 2012

A música internacional nos anos 60


ANOS 60

Os anos 60 trouxeram a esperança de um mundo livre com a revolução sexual – e também com as drogas. A popularização do rock e

a formação dos primeiros ídolos catapultaram os riffs de guitarras para as ruas. Cada vez mais, os artistas se confundiam com o seu público, e assim, estreitavam a relação entre eles. Os jovens se identificavam nas canções, e os compositores buscavam na vida de cada um os temas para as suas músicas.

Os Beatles, além de serem a banda mais influente da década e da história, servem como um exemplo cristalino do que foram os anos 60. Uma década esperançosa e otimista em seu começo, assim como a banda de Liverpool com suas composições ensoladaras e contagiantes e seus ternos, barbas e cabelos estrategicamente cortados, mas que depois, com o estouro das drogas, violência e a guerra no Vietnã, trocou os sorrisos pela visão cínica e confusa do mundo – muito bem representadas em Revolver, Sgt. Peppers e White Album -, enquanto as roupas mudavam e os cabelos cresciam.


O folk de Bob Dylan, no começo da década, e Van Morrison e Tim Buckley, depois, pode ser apontado como um dos principais movimentos dessa época. Constantemente alçado como porta-voz de uma geração, Dylan sempre descartou a responsabilidade de liderar qualquer mudança ou movimento. Mas a música de Bob Dylan tinha força pra isso. Ele mudou não só a cabeça de muitos jovens, como a forma de se escrever. Os personagens milimetricamente trabalhados e cheios de vida, e as imagens construídas pelas letras de suas músicas eram algo novo. The Freewheelin’ Bob Dylan, Highway 61 Revisited e Blonde on Blonde eram maduros e emocionavam. Com o folk, o rock and roll, além da energia e da transpiração dos anos 50, ganhava densidade e se escancarava de forma confessional.

Mas engana-se quem pensa que o caminho que Bob Dylan e outros trovadores criaram apagaria a urgência do rock and roll. A invasão britânica liderada pelo apelo popular dos Beatles e pela força sedutora dos Rolling Stones mostrou ao mundo que o rock podia fazer chorar e ao mesmo tempo, rir, pular e gritar. Enquanto Lennon e Macca experimentavam, e Jagger e Richards sexualizavam a música, jovens e verdadeiros juggernauts como o The Who, na Inglaterra, e MC5 e Stooges nos Estados Unidos (na primeira e principal semente do punk rock) incendiavam países com golpes impiedosos contra os seus instrumentos e letras contestadoras e inconsequentes.

Essa “briga” entre Inglaterra e Estados Unidos marcou os anos 60 e, principalmente, duas bandas: The Beatles e Beach Boys. Os jovens de Liverpool começaram a mudar o mundo e a música quando deixaram o otimismo de lado e assumiram uma postura de experimentação em Rubber Soul e Revolver. Abordagens verossímeis do mundo e mudanças radicais em harmonias e melodias, confundiram e maravilharam o planeta. Esses sentimentos se exacerbaram do outro lado do oceano, mas de forma perigosa e desafiadora no lider dos Beach Boys, Brian Wilson. Ele não tirava da cabeça que seu objetivo de vida era fazer algo melhor do que os Beatles tinham feito. Com isso em mente, se trancou no estúdio por meses com um só pensamento: fazer o pop perfeito. O resultado – além de uma crise nervosa em Wilson – por mais improvável que parecesse, foi Pet Sounds, um álbum tão bom e até mais belo do que o que Macca, Lennon e cia haviam feito até o momento. O problema é que os ingleses responderam, imediatamente, com Sgt. Peppers e White Album. Resultado: Brian Wilson enlouqueceu de vez, desistiu do álbum que estava preparando (Smile, lançado só na década de 2000), e sumiu por muito tempo.

A fase de experimentação do rock nunca foi tão prolífica como nesta década, e o surgimento de um movimento psicodélico, repleto de improvisações e muito felling, trouxe grupos como Cream (de Eric Clapton) e o Pink Floyd (na época liderado pelo psicótico Syd Barret). Mas o principal expoente das experimentações da psicodelia e dos excessos do rock foi o maior gênio da guitarra, Jimi Hendrix. A forma quase sobrenatural de se relacionar com o instrumento criou uma imagem mística em volta de Hendrix. Sua música era urgente, forte e cheia de uma sexualidade que caracteriza o rock and roll até hoje como o estilo “que seus pais não aprovariam”.

Com o mundo já exposto, e o rock and roll cada vez mais autoral, as composições ficararam mais complexas e as metáforas dariam lugar às histórias regadas de drogas, fracassos e pensamentos sobre a socidade. Jim Morrison e seu The Doors, poético e pretensioso, e Lou Reed e John Cale, com o Velvet Underground, eram os expoentes dessa ode à verdade. Enquanto o The Doors flertava com o blues e o jazz, o Velvet Underground era sujo a maior parte do tempo – apesar de Cale ser um músico melódico e técnico. Mas o rock and roll não se comunicava apenas com petardos, diretos e crus, prova disso são Frank Zappa e The Kinks. O primeiro, um virtuoso multiinstrumentista que experimentava a todo momento sem pretensões de mudar o mundo. O segundo, uma banda liderada por Ray Davies, se comunicava musicalmente de forma elegante e sutil. As letras do The Kinks eram simples e bem humoradas, mas eram ácidas, irônicas e não perdoavam ninguém.

O rock da década de 60 também poderia ser simplesmente belo e bem feito, sem se encaixar em movimentos, inovações ou revoluções. A prova disso eram a The Band, formada por membros da banda de apoio de Bob Dylan e o The Zombies, que passou décadas em branco, sem ser reconhecido.

A The Band conseguiu controlar todas as referências da década, se esquivar da psicodelia, escapar do virtuosimo – os seus membros eram todos músicos técnicamente perfeitos – e fazer uma música concisa e bem delineada, sendo uma das saídas a toda abstração que o ácido e as experimentações trouxeram para a música. O mesmo efeito de precisão e honestidade dá o tom de Odessey e Oracle, do The Zombies. Uma obra prima com influências claras do jazz e com uma sinceridade e uma doçura sem fins, evocando o prazer de fazer música por paixão, com o que cada um sente e deseja, influenciados pelo otimismo, pelas experimentações, pela liberdade e pela realidade, conhecida mais tarde de forma abrupta, que são a sintese do que os anos 60 representaram para o rock and roll e o que o rock and roll representou para os anos 60.



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