"Enquanto houver paixão, haverá humanidade", diz Lulu Santos, pelo telefone, com sua voz inconfundível. Sim, ele fala de amor, mas também de seu novo trabalho, o disco Lulu Canta & Toca Roberto e Erasmo.
Durante a conversa, ele vai contando que a dupla equivale a Shakespeare na literatura, pelo poder de criar clássicos do amor e do rock´n´roll na música brasileira. "Eles fizeram isso, deixaram todo mundo com o coração atravessadinho", diz o cantor, bem à vontade.
Pouco depois, ele recita os versos de Como é Grande o Meu Amor Por Você, tudo para provar o argumento de que aquela canção é para sempre. "Você conhece alguma declaração de amor mais sintética e perene que essa?", pergunta.
O clima é esse mesmo. Provocado a falar do disco novo, Lulu conversa sobre amor e canções eternas, talvez porque sejam estes o verdadeiro significado da obra de Roberto e Erasmo Carlos para ele. "As músicas deles estão entre as primeiras que conheci na vida, a Jovem Guarda faz parte de minha tomada de consciência", diz.
Emoções - E faz tempo. Era adolescente quando foi levado pelo tio para conhecer os bastidores e assistir ao programa Jovem Guarda, apresentado por Roberto, Erasmo e Wanderléia. Lulu prestou atenção a cada detalhe da montagem, mas nenhuma emoção se comparou à que teve quando o programa começou: o som da música feita pelos rapazes era bom demais.
Lulu conta que só voltou a pensar nisso há pouco tempo, enquanto assistia, da primeira fila do Teatro Municipal, a um concerto de celebração dos 50 anos de carreira de Erasmo. Roberto subiu ao palco para cantar. "Quando vi os dois juntos, pensei em minha própria existência. Aquele dia no programa mexeu comigo de uma forma tão grande que se tornou responsável pelo que sou", diz.
Foi com a lembrança que surgiu a ideia do disco. "Ele é uma impressão minha sobre esse encontro de Roberto e Erasmo Carlos, sobre o que um provocava no outro. A Jovem Guarda é um fenômeno da modernidade brasileira que começou ali na televisão, dentro do panorama da revolução".
A escolha - O cantor conta que procurou selecionar os rocks feitos pela dupla para gravar, mas que abriu algumas exceções. Uma foi sugestão do próprio Roberto Carlos: Emoções. O empresário dele foi perguntar a Lulu se ele cantava. Ele disse: "Não cantava não, mas cantarei". Pedido atendido no disco: Emoções aparece como uma baladinha retrô e delicada.
Este, aliás, é o clima do disco: Lulu vai imprimindo às canções escolhidas uma espécie de aura retrô, em arranjos bastante surpreendentes. "Roberto viu o show e disse que só conseguiu adivinhar a música pelo início duas vezes".
Apesar de distintas das originais, as canções mostram reverência a elas. Lulu só confirma o que o ouvido já tinha descoberto: "A nobreza de um projeto como o meu é que ele tem uma quantidade imensa de respeito à matriz. Tive que habitar cada uma das músicas, meu entendimento delas foi uma espécie de revelação".
Das faixas escolhidas, Lulu admite que sua preferida é As Curvas da Estrada de Santos, com a qual abre o disco. "Achei a mais bem realizada, e são quase seis minutos de música. O disco começa num mergulho profundo naquela história".
Festa de Arromba, por sua vez, ganhou uma pegada ainda mais rocker, com a clara influência de Chuck Berry.
Lulu entrega logo o sucesso dos arranjos feitos no disco: a reverência ao blues. "A chave para minha música está na vinheta do blues. É uma aposta minha, e nós todos fazemos música assim, de Erasmo Carlos a Restart", avisa.
O disco tem participações de Késia Estácio e Marquinho oSócio, pupilos de Lulu no programa The Voice Brasil. "Esses dois são meus xodós desde o início, são muito próximos de mim", derrete-se Lulu.
Fonte:atarde.uol
