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RÁDIO NOSSA JOVEM GUARDA: A importância da Jovem Guarda

setembro 21, 2012

A importância da Jovem Guarda



No começo dos anos 60, a história do rock no Brasil assistiu à primeira onda de bandas de garagem. Motivados pelo sucesso dos Beatles e da surf music, muitos adolescentes formaram seus grupos com a intenção de virarem profissionais. Isso começou a acontecer num momento de transformação do país. Desde os anos 50, a estruturação de um estado moderno e industrializado que se inserisse na nova ordem mundial daqueles tempos refletiu não só na economia como também na cultura nacional. Nas artes, emergiu uma produção original que misturava elementos internacionais com os brasileiros. Na música, o primeiro resultado disso foi o surgimento da bossa nova. Mas, apesar de jovem, ela era requintada e acomodada demais para uma parcela dos adolescentes, que se interessava mais pela sonoridade e rebeldia do rock’n’roll.
Celi Campello Programa Crush em hi-fi na TV Record

Em meados dos anos 60, essa estética roqueira se aglutinaria em torno de um novo programa televisivo. Naqueles tempos, a televisão já estava estabelecida como uma das principais representantes da indústria cultural nacional, assim como as grandes gravadoras. Programas como “Crush em hi-fi”, na TV Record, “Hoje é Dia de Rock”, na TV Rio, e “Alô Brotos”, na TV Tupi, já haviam levado o rock para a televisão desde a década anterior. Mas, nem só de rock vivia a música na TV. A bossa nova e um de seus filhotes, a MPB, tinham seus espaços no programa “O Fino da Bossa”, comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues, e nos vários festivais da canção promovidos pelas TVs Excelsior, Record e Tupi.

Erasmo, Wanderléa e Roberto: o choro depois da estreia do Jovem Guarda

Em agosto de 1965, no entanto, a estréia do programa “Jovem Guarda”, na TV Record, mostrou que o rock definitivamente havia conquistado seu espaço entre os jovens brasileiros, apesar de todas as críticas ao gênero vindas da esquerda e da direita. Para um público totalmente adolescente, Roberto Carlos apresentou durante uma hora shows com Os Incríveis, Tony Campello, Wanderléa, Erasmo Carlos, Rosemary, Ronnie Cord, The Jet Blacks e Prini Lorez. A platéia ficou ensandecida durante todo o programa, assim como acontecia nos shows dos astros do rock internacional. Daquele dia até 1968, as tardes de domingo pertenceriam à Jovem Guarda.

O programa aglutinou bandas, compositores e intérpretes que se alinhavam em torno de idéias e visões de mundo que refletiam as transformações sociais em andamento no Brasil desde os anos 50. A modernização tecnológica simbolizada pela guitarra elétrica, a mudança comportamental, que misturava nas letras das canções manifestações libertárias, como o feminismo e a contestação dos valores tradicionais, com um certo conservadorismo, e a inserção da música popular na lógica da indústria cultural, com tudo o que isso tem de bom e de ruim, foram características marcantes da Jovem Guarda.




Em um período em que uma parte da sociedade reagia contra o golpe militar de 1964, o movimento foi um dos que mais sofreu com a “patrulha ideológica” de intelectuais e artistas da esquerda brasileira. 












O que as patrulhas não perceberam, no entanto, era que mesmo cheia de ambiguidades e desprovida de engajamentos, a Jovem Guarda foi uma revolução para uma boa parcela da juventude brasileira. As aparições da ternurinha Wanderléa de minissaia, esbanjando sensualidade, com uma atitude independente e liberada, por exemplo, romperam com padrões morais que exigiam da mulher um comportamento de “boa menina”.








O legado da Jovem Guarda

Quando estava no auge, a Jovem Guarda foi uma referência para o Tropicalismo, um dos mais importantes movimentos da música popular no país que surge no final dos anos 60.


Os tropicalistas perceberam que a modernização sonora com a introdução da guitarra elétrica e a sonoridade do rock e os versos sobre temas adolescentes fizeram da Jovem Guarda um importante movimento de comunicação de massa. E isso lhes interessava muito. No começo dos anos 70, a estética das baladas românticas da Jovem Guarda desaguou naquilo que foi classificado como música brega, gênero que se tornou um dos mais populares e de maior vendagem no país. Quase duas décadas depois de ter surgido, a Jovem Guarda voltou a inspirar o rock no Brasil. Nos anos 80, muitos grupos que renovaram o pop-rock brasileiro buscaram uma atualização dos elementos presentes na Jovem Guarda, só que sem a mesma ingenuidade daqueles tempos.


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